domingo, 20 de junho de 2010

O dia que perdemos a taça


Eu nem queria lembrar mais, mas naquela tarde quente de domingo de 12 de julho de 1998, estávamos em Paris, e qualquer um com quem se comentasse o fato reagia com indagação.
- Como assim? Quem em sã consciência gostaria de esquecer uma tarde belíssima em Paris?
As mulheres como sempre, pensando em compras, e romantismo medieval na cidade luz, nem prestam atenção no sofrimento de um revés de três gols a zero sofrida pela seleção canarinho naquele momento. Insensíveis.
- E você estava naquela final?
Em uníssono, as pessoas que se encontravam diante da mesa me olham com espanto.
- Mais ou menos...
Gaguejei. Afinal, eram tantos olhos indagativos sobre mim. E as coisas começavam a piorar. Estavam todos me fitando como um interrogatório policial.
- Como assim? Mais ou menos? Ou se está ou não está?
Eu não sabia como sair daquela sinuca de bico. Estava me sentindo como um Materazzi com uma cabeçada no peito, mas isso era de outra copa, igualmente esquecível para a seleção amarela.
- Fui à França ver a copa. E não vi dois jogos apenas.
- Quais?
- Contra a Noruega, pois já estávamos classificados...
- E o Brasil perdeu.
-... E a final.
- Por que diabos uma criatura vai à copa do mundo e perde a Final?
- Agora vai dizer que pensou que já estava garantida a taça?
- Não! Imagina! Eu, jovem de dezoito anos, na frança...
 Não cheguei a completar a frase, o restaurante todo já estava correndo atrás de mim. Afinal o Brasil perdera a copa por minha causa, já que estivera fora nos dois jogos que a seleção perdera. Menos mal que não precisei explicar que perdemos a taça por causa de outra taça, ou melhor meia-taça.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O outro do Paraíso


 Caminhava tranqüilo pelas estradas cobertas de serração. Ainda estava escuro, mas não tardaria o raiar do dia. Apenas se via a chama acesa do cigarro e pigarrear costumeiro do homem magro e franzino que andava pelos trilhos tão conhecidos à luz do dia, mas que pareciam inóspitos àquela hora da madrugada. Perdera o ônibus que o levaria à cidade mais próxima. Não bastasse o infortúnio de perder o transporte, ainda tinha que voltar para casa, não que não gostasse do velho rancho de madeira coberta de capim, mas sim, pela distancia. Levava em torno de uma hora para cobrir os seis quilômetros até a estrada que passava o velho ônibus.
Entrou em casa exausto, apesar de estar acordado à apenas três horas, ou talvez três horas e meia, pelo menos poderia voltar a dormir antes de ir trabalhar na lavoura de milho. Entrou no quarto a lamparina estava acesa. Iria gastar muito querosene, não havia energia elétrica ainda. Tinha um par de sapatos que não era dele ao lado da cama. Sob ela, um homem, seu conhecido dormia tranquilamente ao lado da sua esposa. Eva parecia feliz.
Adão sempre imaginou estar no paraíso. Aquele momento pareceu um inferno. Seus sentimentos nunca antes expressados, como amor, ou gratidão à mulher ali sorridente ao dormir ao lado de um homem que não era ele. Ficou em silêncio tétrico. Foram longos minutos em que até as batidas do coração cessaram. O vento parou. Nem grilos rompiam a calma da aurora próxima.
Então se mexeu. A passos leves deixou sua alcova violentada rumando à cozinha. Algumas lágrimas escorriam, mesmo a contragosto, avivou o fogo de chão que agonizava. Aproximou a cambona do fogo para aquecer a água para o mate. Tirou a erva, ainda nova, da cuia. Cevou outro, e sentou-se no velho banco de três pernas. Sorvia mate após mate, entre uma tragada no palheiro e um esputo no chão. De vez em quando o galo cantava, acordando o cachorro sarnento que se aquecia próximo ao fogo, balançava o rabo e voltava a dormir serenamente. 
Pouco a pouco a luz do novo dia adentrava pelas frestas da parede. Os pássaros acordavam alegres e festivos. O homem franzino diante do fogo acrescentava mais lenha às chamas, e sorria. Afinal, como punição aos amantes matutinos, não os convidara para tomar chimarrão.

A boa música brasileira

Rádio UFPR

 

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exclusivamente para a Internet no Estado do Paraná.