sábado, 28 de novembro de 2009

O sequestro de Deus

            
               Ainda rezava, com descredito, de pé, mas agradecia a deus. Nunca tinha sido atendido em nenhuma de suas reivindicações, mas acreditava que um dia quem sabe... já tinha perdido as esperanças cinco vezes, perdera a crença nove vezes, mas ainda rezava. Numa tarde de inverno, estava quente muito quente, numa rua qualquer, ele duvidou do divino pela décima vez. Ai era demais, duvidar nove vezes tolerável, dez jamais. Chegou como quem não quer nada mas chamou pelo nome.
               - Edinalvo!
              Já virou com a mão pronta para esmurrar o infeliz que o chamara por este nome dos diabos, derrubaria o desgraçado só para vingar do soco poupado nos pais, daria mais dois só por garantia, quando se deparou com o velhinho de idade completa de pé, apresentando a maior serenidade deste mundo, talvez do universo, vá saber por onde este doido anda.
              - Tá louco véio? Nunca ninguém me chamou assim desde... desde...
              - ...os dez anos?
             Piscou duas vezes, sem entender como é que aquele cidadão desconhecido sabia disso, nunca dissera nem para a esposa deste seu penitente nome, saíra de sua cidade natal, viveu pelas ruas e sempre se apresentou com Edi.
             - Como sabe?
             - Sou aquele que tudo sabe e tudo vê.
             Contando ninguém acreditaria nisso. Ele ateu, ou quase ateu.
             - Agnóstico?
             - O que?
            - Isso mesmo. Você não definiu se acredita em mim, ou não, então duvida, isso se chama agnosticismo.
            - Como sabia disso?
            - Sou aquele que tudo sabe e tudo vê.
            Nossa deve ser um doido fugido de algum manicômio. Pensou.
            - Não fugi de lugar nenhum. Tampouco de algum manicômio, sou Deus.
            Começou a acreditar que se tratava mesmo do criador do céu e da terra.
           - Faz algum milagre? Como foi feita a terra? De onde veio isso tudo? Por que a mulher é tão complicada? Por que o dia tem vinte e quatro horas?
           - Mistérios fazem parte das descobertas.
           - Meu Deus!!! Agora é que ninguém vai mais acreditar em mim.
           - Nunca acreditaram, por que acreditariam agora?
           - Posso dizer que vi Deus, e abrir uma igreja, ficarei rico.
          - Não podes fazer isso?
          - Por quê? Tem tantos por ai que fazem isso.
          - Há tempos eu não venho por aqui. Até me assustei com o estrago que foi feito.
          - Mas o Senhor não está em todos os lugares?
         - Nunca disse isso. Estou pensando em informatizar o céu, mas fico com medo de receber vírus. Os anjos estão levando propinas. Eles são encarregados de vigiar as pessoas, e relatarem para mim. Tenho outros planetas para cuidar. Estou criando um outro sistema de galáxias longe daqui. E leva tempo para receber tantas reclamações.
         - Então tem outros planetas habitáveis?
         - Mas é claro. O homem é louco de pensar que está sozinho por aqui.
         Nesse momento andavam numa rua escura e dois homens assaltaram os dois.
         - Mãos ao alto.
         - O que é isso? – Indagou Deus.
         - Um assalto tio, passa a carteira.
         - Eu não sabia que o homem tinha regredido tanto.
        - Isso é por que o Senhor está aqui a pouco tempo, se ficar mais um pouco vai ver que não evoluíram nada.
        - Vamos lá velhotes não temos a noite inteira para fica de “lero-lero”, passa  o “capim”, que “vamo ralá peito”.
        - Isso mesmo! Seus “mané, vamo passa fogo”.
        Vendo que Deus estava perdido no linguajar chulo. Tentou traduzir.
       - Dá o dinheiro, ou eles nos matam.
       - Mas estes dois seres homo-habilis estão esticando as palavras?
       - São homo-sapiens.
       - “Tão tirando onda, cum noís cumpadi?”
      - Ih!!! Faz tempo que não venho por aqui, mesmo!
      Num grito, um dos assaltantes atirou contra Deus que nem se mexeu.
      - Meu Deus! O que “papagaiada” é essa?
      - Ele não vai morrer porque é Deus.
     Houve longos minutos de silêncio entre os quatro, num misto de espanto e de surpresa. Os bandidos olhavam para a arma e para o cidadão diante deles.
      - Se ele é mesmo Deus, faz uns milagres “pra nóis”.
      - Não adianta. São segredos do sucesso.
     - Então Deus vem “cum noís”. Imagina a grana que este velhote deve ter? Milhões de igrejas arrecadando fortunas.
        Deus nem teve tempo de dizer que não sabia de nada. Foi arrastado pelo escuro da rua e Edi não mais teve noticias dele, nem rezou mais para o Poderoso, mas para todos os Santos, querendo saber do paradeiro do Divino. A maioria das pessoas passou a chama-lo de louco. Tem uma legião porém que o segue, chamando-o de o novo Messias. As outras igrejas tentam acabar com esta crença ridícula, imagina um doido que prega que Deus está na terra, e que ele tem uma missão, encontrá-lo, já que a policia ameaçou prendê-lo caso brincasse com eles de novo.
         Dias depois, ainda tentando liminares para acabar com a nova igreja “ Procuradores do Deus vivo na terra”, os lideres religiosos recebem estranhas ligações exigindo resgate para libertarem o Criador, e riem, afinal eles não acreditam em nada disso. Nem Deus.

sábado, 7 de novembro de 2009

Quinze Segundos


                 Pararam no sinal. Ele, num carro potente cinza, último tipo, destes que fazem de zero a cem num piscar de olhos. Ela, num carro popular, mais de três anos, destes que fazem de zero a cem depois de muita reza. Mas ele nem notou. Ela sim. Pois ele a fechara quase causando um acidente. Ela desceu do carro, furiosa, mulher de atitude, ele gostava disso, hoje em dia na alta sociedade está minado de mulheres fúteis e risíveis. Parecia hipnotizado, pois as barbáries que ela proferia parecia não ser com ele, tal era seu fascínio pela beleza escultural daquela mulher voluntariosa á sua frente.
                Sabia que ali estava a sua musa, a tão procurada mulher da sua vida. Sempre procurara uma mulher assim capaz de por a cabeça dentro da boca de um leão. Freqüentava as altas rodas da sociedade da cidade, rodeado por médicos e aspirantes de socialites, que sem possuir conteúdo algum, procuravam ascensão social casando com um bom partido, como se ainda vivessem num feudo.
                Não acreditava que este homem pudesse ser tão pasmado, estava ali desaforando a tudo e a todos, com palavras nada amistosas, e ele sem reação. Somente lhe olhava com um ar de bobão. Era bonito parecia ser um destes “playboys”, que pega o carro do pai para correr atrás das mulheres. Poderia ser um destes homens que fazem tudo que uma mulher quer. Era um destes que estava precisando, sempre foi muito dominadora. Parecia já escrito, um encontro assim no meio da rua, numa situação destas. Era muito mística, sabia que era o momento.
                O sinal abriu, ele acelerou, ela voltou para seu carro, à fila andava, uns já buzinavam impacientes. Depois disso nunca mais se viram, ambos ainda suspiram quando lembram daquele instante.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Namoros em tempos de escola

                Eu estava namorando. Ela não sabia. Um dia, me aproximei, com coragem, e perguntei:
                - Quer namorar comigo?
                - Sim.
               Disse entre dentes.
               - Maldita.
               Acabou assim minha paixão platônica? Fui embora desolado.

A boa música brasileira

Rádio UFPR

 

Você está ouvindo a RádioUFPR, a primeira rádio feita
exclusivamente para a Internet no Estado do Paraná.