domingo, 25 de abril de 2010

O Filme


-          Corta!
Sempre quis começar uma história desta forma. Pronto comecei. Vê-se uma mulher sozinha. Olha para todos os lados assustada. Quer entender o que está acontecendo. Estava no rio lavando roupas, parecia ser um filme antigo. E era. O ano era 1941. Os cabelos negros estavam envoltos em um lenço azul. Não era mais azul, estava escuro, era um filme preto e branco. Por um breve instante ficou tudo num silêncio sinistro. Atônita olha para frente. Tem três câmeras, luzes e pessoas. O rio fica seco de repente, era um cenário. Ficaram algumas pedras que por instantes roubam sua atenção. Está chocada com o sumiço repentino das águas de um rio corrente. Cessa o cantar dos pássaros que lhe presenteavam com uma linda sinfonia. Entra um homem com um texto na mão, dizendo:
-          Muito bom. Essa cena ficou boa. Vamos parar por hoje. Continuaremos amanhã.
Entra outro homem com uma maquina fotográfica, tira fotos da mulher que continua estática, vestida como uma mulher dos anos quarenta, na sua volta pessoas vestidas com roupas modernas. Conversavam numa rapidez sem nexo. Não entendia nada com nada. Uma mulher com cabelos compridos, claros e lisos, usando óculos de grau, observa suas roupas depois faz anotações numa prancheta. Depois uma outra moça, esta com roupas repletas de adereços e adornos coloridos, começa a recolher a roupa que até agora estivera lavando, tira seu lenço, em seguida lhe puxa pelo braço e começa a lhe tirar a roupa, atrás de um biombo improvisado. Ainda aturdida com os recentes fatos, não consegue reagir, nem falar nada.
De repente nos sentimos vigiados, perseguidos por coisas invisíveis, ficamos encurralados dentro do nosso próprio habitat, como se sempre tivesse alguém a nos espionar. Final do dia, sem nada para fazer, você resolve ler. Encontra do nada um livro sobre a estante. Não sabe como ele foi parar ali, pensa que foi a empregada, o mordomo, ou um dos filhos. De repente lembra que não tem nada disso, mora só você e um pequeno gato ou um cachorrinho, quem sabe. Sem se preocupar mais com esta incógnita, pega-o para ler. E você no sofá da sua sala, lendo este pequeno texto, quando alguém surge do nada gritando:
-          Corta!
Você olha para os lados com uma surpresa inacreditável, olhando pasma para aquela equipe toda ali dentro da sua sala sem seu conhecimento prévio. Um homem careca, de colete como estes clichês de filmes dentro de outros filmes, vem na sua direção, com uma prancheta na mão.
-          Esqueceu do ensaio? Nesta hora você fica furiosa por estar lendo esta porcaria sem pé nem cabeça, e joga o livro contra o espelho. Te liga. Vamos gravar.
E ele volta para onde estava anteriormente. Um outro ajusta um pouco a lente da câmera, para filmá-la em close, outro ajusta a luz, enquanto outro posiciona um microfone com um longo cabo sobre sua cabeça. Antes que o diretor de sinal para voltarem ao próximo “take”, uma moça de cabelos coloridos corre até você, e retoca a maquiagem. O homem de colete senta diante de um pequeno monitor e grita:
-          Atenção! Som! Luzes...câmera...ação!
Ainda atabalhoada com esta situação desconexada, não consegue falar uma só palavra, assistindo a tudo como se fosse uma estátua. Fica sem saber o que faz primeiro, continua a ler o livro ou faz um escândalo para por para fora este bando de malucos. Sem saber se é real ou pura alucinação resolve seguir o roteiro, mas por ira própria, levanta como um furacão e joga o livro a esmo, quase acertando um dos presentes.
-          Corta! Muito bom. Vamos á próxima cena.
O homem caminha para o seu lado dizendo:
-          Incrível! Incrível! Incrível! Você capturou o espírito do personagem, era isso que eu queria.
E você olhando para o colarinho do homem e para o espelho, pensando que a cena ficaria melhor se o espelho fosse quebrado de outra maneira.
Pouco a pouco a história vai perdendo seu ímpeto inicial. Eu fico sem rumo no meio desse enredo. Parto para cima da velha Olivetti, assim mesmo com maiúscula por que ela é sugestionável e ameaça fazer greve do contrario, aos socos e pontapés, numa busca desenfreada para um fim aceitável. Uma saída plausível para isso tudo seria... Não!  Não ficaria legal. Prefiro jogar fora á continuar com esta história maluca, que iniciou para ser sobre cinema, tomou outro rumo e agora fala sobre nada. Sabendo que será esquecida por ai, e muito provável ninguém terá interesse em ler, levanto da cadeira, enfurecido. Quando vou arrancar o papel para jogar no lixo, um ser estranho de colete e longos cabelos invade meu escritório gritando:
-          Corta!

A boa música brasileira

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